ESPÉCIE: 000.050
CAIXA TAXONÔMICA
02: - Accipitriformes:
02.1: - Accipitrídeos:02.1.02: - Aegypius:
02.1.02.1: - Abutre-preto (Aegypius monachus)
Linnaeus, 1766
ESTADO DE CONSERVAÇÃO: NT – Quase Ameaçada.
O Abutre-preto (Aegypius monachus), também chamado Abutre-cinéreo, Abutre-comum, Abutre-negro, Abutre-fusco, Grifo e Pica-osso é uma ave da família Accipitridae. Trata-se de uma ave de rapina necrófaga (Que alimenta-se de carnes em decomposição, carniça) de grandes dimensões. Ocorre numa longa faixa ao longo das latitudes médias do Paleártico, desde a Península Ibérica no ocidente, passando pelos Balcãs e Turquia, através do Cáucaso, Irão, Afeganistão até ao sul da Sibéria, Mongólia e norte da China. As populações invernantes podem estar presentes desde o sul do Sudão, em África, ao Médio Oriente, Paquistão, noroeste da Índia e Coreia. Na Europa a espécie sofreu um acentuado declínio até aos anos 70 do século XX, estando atualmente em recuperação tanto na Península Ibérica como na Grécia. Em Espanha a população cresceu desde 200 casais nos anos 70 até aos 1845 casais no último censo, em 2006. Em Portugal a população está extinta como reprodutora desde o início dos anos 70, mas o número de observações tem vindo a aumentar desde os anos 90, tendo sido registadas algumas tentativas de nidificação em território nacional, até à data sem sucesso.
Morfologia e taxonomia:
O Abutre-preto é a maior ave de rapina da Europa, não só da Europa quanto também, do grupo dos abutres do velho mundo e da família Accipitridae, atingindo os 98 a 120 cm de comprimento e uma impressionante envergadura de asas de 02 metros e 68 centímetros a 03 metros e 10 centímetros. Os maiores indivíduos atingem os 13,5 quilos e meio de peso.
A plumagem é preta-acastanhada, quase uniforme em todo o corpo. Tal como acontece na maioria das espécies de Abutre, a cabeça não têm penas, estando coberta por uma penugem de cor clara, com partes pretas ao redor dos olhos e no pescoço.
O bico é castanho, com cera cinzento-azulada. As patas são cinzentas.
A silhueta de voo é caracterizada pelas enormes asas, quase retangulares, e pela cauda em forma de cunha típica dos Abutres.
Esta espécie é monotípica. Apesar de se reconhecer alguma diferenciação genética entre as populações ao longo da sua vasta área de distribuição, esta não justifica a definição de subespécies.
Habitat e alimentação:
O Abutre-preto tem como habitat de nidificação as zonas florestadas com bastante relevo. Na Península Ibérica nidifica a altitudes entre os 300 e os 1.900 m. Na Ásia pode atingir maiores altitudes, usando também zonas áridas e semiáridas de alta montanha, até aos 4.500 m.
Na Espanha, esta espécie nidifica, sobretudo em bosques mediterrânicos e montados, construindo ninhos tanto em sobreiro (Quercus suber) como em azinheira (Quercus rotundifolia). Os pinhais de montanha são também usados, sendo as espécies mais utilizadas o (Pinus pinaster), o (Pinus sylvestris) e o (Pinus pinea). Na Ásia as árvores mais usadas para nidificação são os zimbros (Juniperus ssp.), podendo também, em casos raros, nidificar sobre rochas. Os ninhos são construídos com troncos e paus e chegam a atingir os 02 m de diâmetro. Estes ninhos são tão pesados que não seja incomum acabarem por cair das árvores.
Como habitat de alimentação, esta espécie utiliza habitas mais abertos, desde montados dispersos a culturas cerealíferas e pastagens, na Europa, a estepes e prados alpinos na Ásia. Na Europa, podem também usar olivais, vinhas e culturas de regadio, mas estes não são habitats preferenciais para a espécie.
Esta ave, de hábitos necrófagos, alimenta-se, sobretudo de carcaças de tamanho médio a grande. Ocasionalmente podem ingerir animais vivos, como lagartos ou tartarugas. Na Ásia a espécie alimenta-se de carcaças de marmotas (Marmota bobac e Marmota himalayana), iaques Bos grunniens selvagens e domésticos, ovelhas-azuis (Pseudois nayaur), gazelas-do-Tibete (Procapra picticaudata), lebre-lanuda (Lepus oiostolus) e Kiang (Equus Kiang). Em algumas zonas chegam a alimentar-se de cadáveres humanos colocados em plataformas usadas para enterros cerimoniais em que os cadáveres são oferecidos aos abutres como forma eficaz de eliminar os restos humanos e minimizar o risco de doenças.
Na Península ibérica a presa tradicional do Abutre-preto era o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus). Contudo, a evolução da paisagem mediterrânica para sistemas mais abertos, utilizados para a exploração de gado, aliados a doenças, como a mixomatose e a doença hemorrágica viral que dizimaram as populações de coelho, levaram os abutres a mudar a sua dieta. Hoje as principais presas do Abutre-preto são as ovelhas e cabras mortas e deixadas no campo pelos pastores. Os porcos e as vacas são também utilizadas, mas em menor escala. Em zonas onde as densidades de coelho, ou de ungulados silvestres (veados, gamos, javalis, muflões, etc.) são ainda elevadas, estas são ainda presas importantes na dieta do Abutre-preto.
Na última década deu-se mais uma mudança nas atividades humanas que tem vindo a afetar todas as espécies europeias de abutre, nomeadamente o Abutre-preto. Depois do surto de encefalopatia espongiforme bovina (EEB, mais conhecida como doença das vacas loucas), a União Europeia criou um conjunto de novas normas sanitárias que tornou quase impossível aos criadores de gado manter carcaças no campo, ao alcance dos necrófagos. Esta situação traduziu-se numa redução drástica do alimento disponível para os abutres, com consequências potencialmente graves para estas espécies, algumas das quais ameaçadas de extinção. Desde então, algumas organizações conservacionistas, nomeadamente a Bird Life International têm vindo a fazer pressão para que estar normas sejam relaxadas, e para criar alternativas que permitam aos abutres encontrar alimento suficiente, nomeadamente a criação de alimentadores, locais especialmente criados para colocar carcaças de gado, em condições seguras e sanitárias, ao alcance dos abutres.
Reprodução:
Os Abutres-pretos maturam ente os 03 e os 06 anos de idade, após o que formam casais estáveis que podem durar muitos anos. O período reprodutor desta espécie é extremamente longo, começando logo em finais de Janeiro com a construção ou arranjos dos ninhos. Entre Fevereiro e Abril ocorrem as posturas, que são quase sempre compostas por um ovo apenas (observam-se 02 ovos em menos de 1% dos casos). O período de incubação dura de 54 a 56 dias, e as crias, depois de eclodirem, demoram entre 95 a 120 dias até se tornarem independentes.
Os casais de abutre-preto não nidificam todos os anos. Segundo dados recentes, em Espanha o sucesso reprodutor (i.e. a probabilidade de um ovo gerar uma cria independente) é da ordem dos 58%, sendo a produtividade da população da ordem dos 0.47 crias/casal/ano.
Conservação e Ameaças:
O Abutre-preto está atualmente classificado como “Near-Threatened” Quase Ameaçada (NT) pela IUCN. Na Espanha tem estatuto de Vulnerável (VU) e em Portugal está Criticamente em Perigo (CR).
Entre as principais ameaças que afetam esta espécie constam-se:
1. Intoxicação e envenenamento: Os pesticidas são, desde a segunda metade do século XX, uma das principais causas de declínios populacionais em aves de rapina. Esta situação melhorou grandemente devido a normas que restringiram o uso destes agentes. Atualmente continuam a ocorrer alguns problemas devido a abusos no seu uso e, sobretudo, devido ao seu uso de forma propositada para controlo de predadores. A morte devida à ingestão de venenos colocados no campo para controlo de predadores é uma das principais causas de morte no Abutre-preto. Este problema, afeta, sobretudo os adultos, tendo assim consequências particularmente graves na demografia da espécie. Na Espanha são detectadas em média 10 a 15 fatalidades por ano, devido a este problema, tendo-se verificado um máximo de 48 fatalidades em 1999. Os tóxicos mais usados são o carbofurano, o aldicarb e a estricnina. Na maioria dos casos os abutres não eram de fato, o alvo pretendido dos venenos, sendo antes vítima de riscos envenenados destinados a raposas, cães assilvestrados e aves de rapina não necrófagas.
2. Eletrocussão e choques com linhas elétricas: Os acidentes envolvendo infraestruturas elétricas são uma das principais causas de mortalidade não natural em aves. Na Espanha detectaram-se 34 casos de mortalidade em Abutre-preto, associada a infraestruturas elétricas, entre 1990 e 2006. A principal causa de morte são as colisões com os cabos e não tanto a eletrocussão. Em Portugal foi detectado um caso de um Abutre-preto morte depois de colidir com uma linha elétrica de alta tensão, sendo estimado que ocorram em média 04 acidentes deste tipo por ano com esta espécie.
3. Perturbação humana: O Abutre-preto é uma espécie com muito pouca tolerância a qualquer forma de perturbação humana, evitando nidificar em zonas frequentadas pelo homem e procurando alimento longe de atividades humanas. Assim, qualquer tipo de atividade que ocorra na área de ocorrência desta espécie, sobretudo durante o período de reprodução e a distâncias inferiores a 500 m de ninhos e locais de alimentação pode prejudicar esta espécie reduzindo a disponibilidade de alimento e aumentando o risco de abandono dos ninhos. Entre as diferentes fontes de perturbação são de realçar as estradas e caminho florestais, os corta-fogos e asseiros, as atividades silvícolas (cortes, podas, fumigações e repovoamentos), a extração de cortiça, infraestruturas de transporte e produção de energia, atividades agrícolas e pastoris e a caça. Isto não significa que a existência do Abutre-preto não possa ser compatibilizada com as atividades humanas. Antes pelo contrário, as atividades do Homem, nomeadamente as práticas agrícolas, pastoris e silvícolas extensivas e efetuadas de uma forma sustentável, podem aumentar a disponibilidade alimentar para o Abutre-preto e melhorar o habitat desta espécie, podendo ser compatibilizadas com a conservação desta espécie na paisagem mediterrânica.
4. Incêndios florestais: Os incêndios florestais são um fenômeno típico dos climas mediterrânicos, devido à ocorrência de Verões quentes e secos. Não obstante, em Portugal e Espanha as maiorias dos incêndios registados são de origem criminosa. Os incêndios afetam, sobretudo crias não voadora; sendo responsáveis por uma pequena percentagem dos insucessos na reprodução, da ordem dos 03 a 05%. Os incêndios podem também causar a perda de zonas de habitat favorável à reprodução da espécie.
5. Outras causas: Outras ameaças que afetam o Abutre-preto incluem a o abate ilegal e a falta de alimentos. A falta de alimentos esta, sobretudo associada às alterações nas práticas agrícolas, nomeadamente a intensificação das explorações de gado e a consequente estabulação dos animais, e as novas regras sanitárias que limitam a disponibilidade de carcaças de gado. Atualmente, as principias medidas dirigidas à conservação desta espécie passam pela redução dos envenenamentos ilegais, através de leis mais rígidas e de uma maior vigilância e penalização dos responsáveis; pelo aumento da disponibilidade alimentar, através do fomento de práticas de criação de gado extensivo e da criação de alimentadores artificiais; por medidas de gestão de habitat que favorecem as presas naturais, nomeadamente a proteção e reforço dos matos mediterrânicos essenciais ao coelho-bravo; pelo fomento da reflorestação com espécies autóctones, nomeadamente o sobreiro e a azinheira, e pela construção de plataformas artificiais para aumentar a disponibilidade de locais de nidificação; e pela minimização das diferentes fontes de perturbação humana, sobretudo em redor das colônias de nidificação e de outros locais potenciais para a nidificação desta espécie.
Link em Português: http://pt.wikipedia.org/wiki/Aegypius
Link em Inglês: http://en.wikipedia.org/wiki/Aegypius
Vídeos da Espécie:
Fotos da Espécie:
ORNITOLOGIA
Jisohde G. Posser
120405
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